quarta-feira, 27 de julho de 2016

Uma casinha

Às vezes a casa é grande demais, e o corpo mesmo assim não cabe lá. Mas são os pensamentos que precisam de caber no corpo e na casa. E aí muitas vezes tudo fica pequeno com bocadinhos de fora, que se perdem nos encontrões que damos nas paredes da rua. Não sei o que é que mais vale a pena: se é ter uma casinha pequena onde a porta está sempre aberta (fecham-se as portas só por causa dos ladrões) ou se é ter uma grande casa onde nada cabe em condições. Quanto a mim preferia ter a porta aberta e assim poder ver o que se passa lá fora. Tenho a certeza de que me serviria de inspiração (e tudo caberia em todo o lado).



O domingo

Os domingos são aqueles dias patetas que reservamos para dizer que estamos a descansar. Mas, não. Uns descansam e outros trabalham, ainda havendo os que são forçados a descansar porque nunca estão no trabalho. Sabe-se lá porquê. São muitos os que fazem do dia a dia um permanente domingo. E quando isso acontece até parece que não há dias da semana, não há ritmo, não há rotina, e, ou, sei lá, não há nada de especial. Mas o domingo é o dia da celebração de tantas coisas, porque alguém alguma vez disse que a semana começa neste dia e acaba no sábado seguinte. Não sei se é importante ou se preferia que não houvessem semanas, nem meses, nem anos. Envelheceria aos poucos, apenas porque notava mudanças em mim e podia ver as diferenças do meu rosto nas águas dos lagos e dos rios que passam devagar. Acho que preferia assim, ter inicio e fim e entremeio, sem que me impusessem regras. Tenho a certeza de que seria muito certinha, todos seriamos, tudo estaria programado para que a vida funcionasse duma outra forma.... Sem dúvida que tenho esse sonho em mim.



O grito

São estes pequeno quês que nos fazem arrepiar, mesmo não sendo adeptos de nada. Mas quando se é adepto de Portugal acabamos por, mais do que arrepiar, lançar gritos de alegria. Não grita o profissional, não grita o homem que estudou para relatar; grita a alma dum povo numa única voz; cala-se a voz quando agora todos gritamos ao som da nossa alegria. Afinal gosta-se ou não de futebol? E quando andamos para aí a dizer que o desporto não é só bola; que os jogadores ganham mais num dia do que ganhamos num ano; que o país quer é "fátima, fado e bola"? Dizemos alguma coisa ou apenas somos os protagonistas críticos dum desespero diário perante uma vida de contrariedades. Quem paga é o mexilhão, e as línguas crescem para o lado daquilo que gostaríamos de ser (ter) e parece que nos é inalcansável. Mas falamos e dizemos o que vem à cabeça. Se eles ganham são heróis, mas se perdem são uns privilegiados. E nós uns coitaditos que nunca temos nada. Ou uns enormes portugueses; deixamos de ser sofredores para ser um país. Mudamos tanto, tanto que até parecemos meios malucos a falar. O importante é que muitas vezes corre bem, deseja-se "boa sorte" e assim contribuímos para uma cota parte do sucesso. Às vezes até rezamos a Deus, ou fazemos menção disso com um sinal da cruz. Como se Deus percebesse alguma coisa de futebol! Mas não importa nada disso; o que importa é que ficamos felizes.



Se há coisa que este meu trajecto inglório me tem proporcionado é a criatividade. Sei que por vezes será chocante, para alguns, lerem o que escrevo (julgo que esses nem sequer conseguem ler porque não fazem parte do grupo de "amigos" - mas na internet nunca se sabe o que se lê ou não). Mas sei também que a palavra vai passando de uns para os outros, e sendo assim prefiro escrever do que apenas dizer; pelo menos há um registo que comprova palavra por palavra aquilo que foi dito. Não sou daquelas pessoas que dizem e desdizem, escrevem e fazem assinar palavras escritas, e depois não nos dão algo que comprove o que afinal concluiu o seu juízo. Este é o pequeno mundo onde fomos votados a morar, e que é tão cheio de arabescos que se entrecruzam... Quando eu trabalhava com pequenas crianças doentes lembro-me que adorava aqueles momentos mágicos quando lhes dizia: "Eu sou uma fada e as minhas asas são amarelas e cor-de-rosa". E depois ficava a vê-las espreitar descaradamente para as minhas costas ou mais subtilmente pelo canto do olho... Essas e outras coisas farão parte do meu memorial quando um dia eu morrer para a minha profissão. Mas o que nunca vou esquecer é de uma pequena palavra, talvez a mais importante que ouvi em toda a caminhada: o toque. O toque foi a maior descoberta que se deu na enfermagem, superior a qualquer especialidade - eu até acho que qualquer tese de especialização deveria falar obrigatoriamente no toque - aliás desde que ele faça parte da alma dum enfermeiro a especialidade não faz falta nenhuma. "... Ela manteve os olhos fechados e o seu silêncio. Assim permaneceu dias e dias na sua dor solitária. Ninguém a visitou. Ninguém perguntou por ela. Além de mim, ninguém lhe pegou na mão ... E talvez porque não tinha quem lhe limpasse uma lágrima, nunca chorou ..." Depois disso, as lágrimas têm o dom maravilhoso de me cair pelo rosto e eu sinto que alguma vez me senti bem no meu papel. Ela já não chorava, talvez porque as pessoas que (por pouca sorte) a rodeavam, eram especialistas demais. Já muito pouco me importa. Agora sou louca e sou velha, por isso tenho o direito de dizer tudo; além disso depois da tempestade tudo o que eu quero são dias de sol... E assim a minha vida vai ganhando os dias de sol, cada dia mais iluminado que o outro...



Diariamente assisto a investidas colossais para destruir a mente humana. E depois não digam que a doida sou eu, se eu afirmar que nunca tanta gente se preocupou tanto com tão pouco. Que é feito de gente que inventa alguma coisa para melhorar a nossa vivência sobre a terra? Gente criadora de coisas que nos deleitem sem nos agitar o corpo até à quase morte? Gente que investigue, descubra, prove, comprove e depois descanse sobre os resultados que transmite a quem não sabe quase nada. Hoje em dia corremos atrás daquilo que não existe, mas numa correria que nos destrói, numa ânsia que nos atropela e atropelamos quem está ao nosso lado, até conseguimos atingir quem está bem longe porque o alcance dos meios de comunicar são infinitos... não serão infinitos, porque infinito é o espírito... é uma forma de medir a grande dimensão. Porque a palavra infinito também se tornou infinitamente falsa. Pensamos que nos prolongamos, no poder, na inteligência, nas capacidades intelectuais. Pensamos. Efectivamente não. Parece que já ninguém entende que ser e estar é muito diferente de ter e deter. No fundo somos uns pobres espertos que caminhamos nesta lama nojenta de saberes que nos destroem, que nos abortam, e acreditamos que somos o máximo. Como ouvi dizer um dia destes a alguém detentor de um bom titulo académico "a senhora pode fazer tudo desde que não desempenhe actividades intelectuais". E nesse dia realmente eu fiz tudo: sentei-me, levantei-me, comi, bebi, falei, subi e desci escadas, mexi quase todos os músculos para que não entorpecessem mas também de forma que não me sentisse com muito calor (estava um dia que mais parecia uma brasa). Ahhhh... mas não desenvolvi actividades intelectuais... atenção. Foi uma ordem que dei a mim própria - Manela o intelecto vai separar-se do teu corpo e fica ali sossegado enquanto tu fazes tudo. O resultado foi claro: tive muito mais tempo para pensar, observar, discernir. Cuidado senhores que mandam nisto tudo. Nunca mandem separar uma coisa da outra (o corpo do intelecto), porque o resultado pode ser catastrófico e muita gente pode virar inteligente. É que correr atrás de Pokemons só requer um bocadinho de corpo e o resto é o que "eles" mandam fazer (até já se fazem seguros para quem investe muito com o corpo, é que se morrer sempre pode levar o seguro no sarcófago). O pior disto tudo é que no fim - o corpo é que paga!!!



A pontuação

Bom é ter a vida cheia de vírgulas (pausas pequenas para dar ênfase). Já os pontos finais são uma maçada porque requerem energia para recomeçar. Se bem que pior ainda são os pontos parágrafos; esses significam que começa tudo de novo. Muitas vezes é preciso; a pausa é maior para descansar, mas o que está para trás acabou. Já as reticências têm algo de animador, dão aso a que venha novidade... aquelas novidades que nem sabemos se dizemos ou não, mas que acabam com um ponto de exclamação; um grito de alegria, de admiração ou de terror. Seja como for mexe connosco e com os outros.Tudo tem o seu quê, tudo é vida, tudo faz falta. É na escrita que tudo luz seja de dia, seja de noite; dentro e fora de nós; no papel ou no ecrã do computador. E a alma eleva-se, pontua-se, regrasse, e regasse também o calor deste montinho de coisa que somos para passar-mos a ser grandiosos.


terça-feira, 26 de julho de 2016

Todos os anos, quando se inicia a Volta a Portugal em Bicicleta, sinto esta presença do meu pai ciclista. As histórias que ele contava acerca do que eram as bicicletas de rodas de madeira e o peso delas, e outras tantas e tantas histórias que ainda hoje me pergunto se eram verdadeiras, exageradas ou imaginadas. Para mim, criança atenta, eram o meu mundo e do meu pai (ele e as histórias que ele contava). E eu ficava a olha-lo com uma enorme admiração, sentindo que pai como o meu não existia outro em mais lugar nenhum. Pois bem amanhã começa a 78ª Volta a Portugal que termina precisamente no dia dos meus anos (7 de Agosto), na Praça do Comércio em Lisboa. Um dia propositadamente escolhido para eu estar lá e viver o momento da chegada, como o fazia com ele quase todos os anos. Propositadamente? Claro que não, mas para mim sim. É um dia que me fazia falta comemorar. Saudades de ti meu pai. Vamos os dois no dia 7? Está feito o convite...


O dia da mãe

Tenho estado aqui a pensar nesta coisa de existir um dia da mãe. No fundo no fundo é o dia de todos. Porque se a mãe tem filhos é dia dos filhos. Porque se a mãe tem pais é dia dos avós. E dos bisavós. E dos netos. E porque eu disse ontem à minha nora que para mim é o dia dela porque é a mãe dos meus netos, a única mãe que tenho é a mãe dos meus netos, também é dia das noras. Então numa simples operação de lógica, parece-me que é o dia de todos. E o dia de todos é todos os dias. Pois que os meus filhos não se preocupem com o dia da mãe porque eu, na minha vez de ser mãe apenas tenho que vos dar duas coisas: Raízes e Asas. E quando vejo que as receberam de mãos abertas estou a ser gratificada para todos os dias dos anos da minha vida.



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Tu que trabalhas o sonho
e desenhas o barro.
Tens o dom dos sentimentos profundos
como uma realidade de dor,
alegria e amor.
Nascem os homens e as mulheres,
os hábitos e os sentires,
dum povo que labuta.
Cresce-te das mãos o mundo
de gente rude e simples.
E rasgas o chão...
extrais a argila,
nasce o boneco, 
a imaginação
e a alma.
E a roda gira sem parar,
gira o ser e o estar,
a arte, a poesia e o destino.
Tu que trabalhas o barro,
desenhas o sonho,
e a vida.



quinta-feira, 21 de julho de 2016

Marcos

Marcos 13

1 Quando ele estava saindo do templo, um de seus discípulos lhe disse: "Olha, Mestre! Que pedras enormes! Que construções magníficas!"

2 "Você está vendo todas estas grandes construções?", perguntou Jesus. "Aqui não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas."

3 Tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, de frente para o templo, Pedro, Tiago, João e André lhe perguntaram em particular:

4 "Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal de que tudo isso está prestes a cumprir-se?"

5 Jesus lhes disse: "Cuidado, que ninguém os engane.

6 Muitos virão em meu nome, dizendo: 'Sou eu!' e enganarão a muitos.

7 Quando ouvirem falar de guerras e rumores de guerras, não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim.

8 Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Essas coisas são o início das dores.

9 "Fiquem atentos, pois vocês serão entregues aos tribunais e serão açoitados nas sinagogas. Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis, como testemunho a eles.

10 E é necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as nações.

11 Sempre que forem presos e levados a julgamento, não fiquem preocupados com o que vão dizer. Digam tão somente o que for dado a vocês naquela hora, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito Santo.

12 "O irmão trairá seu próprio irmão, entregando-o à morte, e o mesmo fará o pai a seu filho. Filhos se rebelarão contra seus pais e os matarão.

13 Todos odiarão vocês por minha causa; mas aquele que perseverar até o fim será salvo.

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 Marcos foi discípulo do apóstolo Paulo de Tarso e posteriormente de Pedro. Autor de um dos Evangelhos (O Evangelho Segundo S. Marcos), segundo as palavras e narrações que lhe foram ditas por S. Pedro. É o evangelho mais antigo e mais curto dos quatro evangelhos da Bíblia Cristã (16 capítulos) que conta a historia de Jesus de Nazaré. Nasceu cerca do ano 10 a.c. em Cirene, e morreu em Alexandria no dia 25 de Abril do ano 68 d.C. sendo considerado o fundador da Igreja de Alexandria, uma das principais sedes do Cristianismo primitivo. O evangelho tem origem romana embora tenha sido escrito em grego entre os anos 65 e 70 d.C.


Quem é que paga?

Diariamente assisto a investidas colossais para destruir a mente humana. E depois não digam que a doida sou eu, se eu afirmar que nunca tanta gente se preocupou tanto com tão pouco. Que é feito de gente que inventa alguma coisa para melhorar a nossa vivência sobre a terra? Gente criadora de coisas que nos deleitem sem nos agitar o corpo até à quase morte? Gente que investigue, descubra, prove, comprove e depois descanse sobre os resultados que transmite a quem não sabe quase nada. Hoje em dia corremos atrás daquilo que não existe, mas numa correria que nos destrói, numa ânsia que nos atropela e atropelamos quem está ao nosso lado, até conseguimos atingir quem está bem longe porque o alcance dos meios de comunicar são infinitos... não serão infinitos, porque infinito é o espírito... é uma forma de medir a grande dimensão. Porque a palavra infinito também se tornou infinitamente falsa. Pensamos que nos prolongamos, no poder, na inteligência, nas capacidades intelectuais. Pensamos. Efectivamente não. Parece que já ninguém entende que ser e estar é muito diferente de ter e deter. No fundo somos uns pobres espertos que caminhamos nesta lama nojenta de saberes que nos destroem, que nos abortam, e acreditamos que somos o máximo. Como ouvi dizer um dia destes a alguém detentor de um bom titulo académico "a senhora pode fazer tudo desde que não desempenhe actividades intelectuais". E nesse dia realmente eu fiz tudo: sentei-me, levantei-me, comi, bebi, falei, subi e desci escadas, mexi quase todos os músculos para que não entorpecessem mas também de forma que não me sentisse com muito calor (estava um dia que mais parecia uma brasa). Ahhhh... mas não desenvolvi actividades intelectuais... atenção. Foi uma ordem que dei a mim própria - Manela o intelecto vai separar-se do teu corpo e fica ali sossegado enquanto tu fazes tudo. O resultado foi claro: tive muito mais tempo para pensar, observar, discernir. Cuidado senhores que mandam nisto tudo. Nunca mandem separar uma coisa da outra (o corpo do intelecto), porque o resultado pode ser catastrófico e muita gente pode virar inteligente. É que correr atrás de Pokemons só requer um bocadinho de corpo e o resto é o que "eles" mandam fazer (até já se fazem seguros para quem investe muito com o corpo, é que se morrer sempre pode levar o seguro no sarcófago). O pior disto tudo é que no fim - o corpo é que paga!!!



Tentativa de libertação


Banhas as patas no rio.
Contemplas o brilho do sol.
Ave inocente.
Olhas a natureza, 
que o homem mascarou,
pintada à sua semelhança.
Das patas fez mãos...
Ave inocente.
Transformada sem desejar,
em pequeno monstro,
faminto de liberdade.
Serei o homem?
Tal como tu faminto...
Pequeno monstro,
transformado sem desejar.
Inocente a contemplar a natureza.

Eu e tu a lutar por ideais,
humanos e sobrehumanos.
Ou talvez só lutar 
pelo que recusámos inconscientes,
(eu um homem tu ave)
contra o que nos impuseram
e não recusámos.

Lutar
pelo que não nos impuseram 

Liberdade. 


Ondeando


Os dias são feitos de horas,
de angústias, de correntes oceânicas.
Trazem algas escorregadias...
Tem cuidado!
Pisa as angústias. 
As algas levam-te ao mar,
e cais...
Sem pensar no monótono ciclo da vida.
Deixa as ondas rolar sem descanso.
Emerge sereno e constante,
do teu pensamento lúcido,
cheio de ti próprio.
Cheio do teu ser.

Os dias são feitos de horas,
De angústias, de ondas oceânicas.
E as ondas são feitas de ti.
Tu és a onda que rola,
bate nas duras rochas,
que têm grutas...
Se és onda és alga,
... e angústia, e dia, e hora.
Tu és tudo.
És o mundo e o mundo és tu.
Os outros e tu,
são uma massa informe e sensível,
escorregadia mas segura.
Cheia de horas e dias,
de mar, angústias e ondas que rolam.
Sem cessar


Existência


Eu sei...
que não acordei.
E edifiquei
tudo o que nunca terei.
Nem meu sonho inacabado
continuará.
Pois em frente
há todo um passado.
Frio como gente
que não veio e não virá.
Que acabado (meu sonho)...
Nasceria novamente em duplicado.
Como o meu espírito impotente.
Torturado.
De gente.